Tempo de leitura para crianças: 21 min
Em frente a uma grande floresta morava um pobre lenhador com a mulher e dois filhinhos; o menino chamava-se Joãozinho e a menina Margarida. Tinham pouco com que se alimentar, e, sobrevindo na cidade uma grande carestia, nem mesmo o pão de cada dia conseguiram mais. Numa dessas noites, quando atormentado pelas preocupações não conseguia dormir e ficava revirando inquieto na cama, entre um suspiro e outro, disse à mulher:
– Que será de nós? Como alimentaremos nossos filhinhos, se nada temos nem para nós? – Escuta aqui, meu caro marido, – respondeu ela – amanhã cedo, levaremos as crianças para o mais cerrado da floresta, aí lhes acenderemos uma fogueira e lhes daremos um pedaço de pão para que se alimentem;
depois iremos para o nosso trabalho e os deixaremos lá sozinhos; êles não conseguirão encontrar o caminho de casa e assim ficaremos livres dêles. – Não, mulher, isso não posso fazer. Se abandonar meus filhos sozinhos na floresta, não tardarão as feras a devorá-los, como poderei viver depois? – És um tolo, isso sim. Teremos de morrer os quatro de fome e não te resta se não aplainar as tábuas para os nossos caixões. Contudo, não deu sossêgo ao pobre marido até êle concordar. – Mas as pobres crianças causam-me uma pena imensa! – repetia êle. As crianças também, de tanta fome, não conseguiam dormir; assim ouviram tudo o que a madrasta dizia ao pai. Chorando amargamente, Margarida disse a João- zinho:
– Está tudo acabado para nós! – Não te aflijas, – respondeu Joãozinho – não tenhas mêdo, eu sei o que hei de fazer. Assim que os velhos adormeceram, Joãozinho levantou-se bem de mansinho, vestiu o paletó, abriu a porta da frente e escapuliu para fora. A lua resplandecia diáfana e os seixos branquinhos cintilavam diante da casa como se fôssem moedas recém-cunhadas. O menino apanhou e meteu nos bolsos quantos pôde. Depois voltou para casa e disse a Margarida:
– Tranqüiliza-te, querida irmãzinha, e dorme sossegada; Deus não nos abandonará. E deitou-se novamente.

Ao amanhecer, antes ainda do sol raiar, a mulher acordou as crianças, dizendo:
– Levantem-se, seus vadios. Vamos catar lenha na floresta. Deu um pedaço de pão a cada um e disse:
– Eis aqui para o vosso almoço; mas não deveis comê-lo antes do meio-dia, se não nada mais tereis que comer depois. Margarida guardou o pão no avental pois Joãozi- nho estava com os bolsos cheios de pedras. Em seguida, encaminharam-se todos rumo à floresta. Tendo caminhado um certo trecho, Joãozinho parou e voltou-se a olhar para a casa; fêz isso repetidas vêzes, até que o pai, intrigado, lhe perguntou:
– Que tanto olhas, Joãozinho, e por que ficas sempre para trás? Vamos, apressa-te. – Ah, papai, – disse o menino – estou olhando para o meu gatinho branco, que, de cima do telhado, está acenando para mim. – Tolo, não é o teu gato – interveio a mulher; – não vês que é o sol da manhã brilhando na chaminé? Mas Joãozinho não olhava para gato nenhum; era apenas um pretexto para, tôdas as vêzes, deixar cair no caminho uma das pedrinhas brilhantes que trazia no bolso. Quando, finalmente, chegaram ao meio da floresta, disse-lhes o pai:
– Juntemos um pouco de lenha, meninos, vou acender uma fogueira para que não fiqueis enregelados. Joãozinho e Margarida juntaram uma boa quantidade de gravetos e ramos sêcos, com os quais acenderam a fogueira; ussim que as chamas se elevaram, disse-lhes a mulher:
– Deitai-vos juntos do fogo, meninos, enquanto nós vamos rachar lenha; uma vez terminado o nosso trabalho, viremos buscar-vos. Joãozinho e Margarida sentaram-se perto do fogo e, ao meio-dia, cada qual comeu o seu pedaço de pão. Ouvindo os golpes do machado, julgaram que o pai estivesse aí por perto; mas não era o machado, era simplesmente um galho que êle havia amarrado a uma árvore sêca e que batia sacudido pelo vento. Ficaram muito tempo sentados junto do fogo, depois, pelo cansaço, fo- ram-se-lhes fechando os olhos até adormecerem profundamente. Quando despertaram, era já noite avançada. Margarida pôs-se a chorar com mêdo. – Como sairemos agora da floresta? – Espera um pouco – disse-lhe Joãozinho para a consolar – espera até surgir a lua, aí encontraremos o caminho. Não tardou, apareceu a lua resplandecente. Joãozinho tomou a irmãzinha pela mão e juntos foram seguindo as pedrinhas, que brilhavam como moedas novas e lhes indicavam o caminho. Andaram a noite tôda; ao despontar da aurora, chegaram à casa paterna. Bateram à porta e, quando a mulher abriu, vendo os dois na sua frente, disse, muito zangada:
– Crianças malvadas, por que dormistes tanto na floresta? Até pensamos que não queríeis mais voltar para casa. O pai, ao contrário, alegrou-se ao vê-los, pois remoia-o o remorso por tê-los abandonado lá sòzinhos. Assim passou um certo tempo. Depois a miséria tornou a invadir a casa e, uma noite, quando estavam deitados, os meninos ouviram a madrasta dizer ao pai:
– Já comemos tudo o que havia em casa, só nos resta meio pão, e com êle acaba a ração. E‘ necessário que as crianças se vão embora; desta vez, porém, os conduziremos mais para o embrenhado da floresta, a fim de que não encontrem o caminho para voltar. Não nos resta outra solução. O homem sentiu confranger-se-lhe o coração e ia pensando: „Seria melhor que repartisses teu último bo
cado com teus filhos“; e relutava em concordar. A mulher, porém, não queria dar-lhe ouvido e censurava-o àsperamente. Ora, quem diz A deve também dizer B e desde que havia cedido da primeira vez, viu-se forçado a ceder da segunda. As crianças, que ainda estavam acordadas, ouviram tôda a conversa. Assim que os velhos adormeceram, Joãozinho levantou-se novamente para sair de mansinho, como da outra vez, para catar os seixos lá fora; mas a madrasta havia trancado a porta e êle não pôde sair. En- tretando, consolou a irmãnzinha, dizendo-lhe:
– Não chores Margarida, dorme sossegada; o bom Deus nos há de ajudar. Ao raiar do dia, na manhã seguinte, a madrasta tirou as crianças da cama. Cada um dêles recebeu um pedaço de pão, ainda menor que da vez anterior. Em caminho para a floresta, Joãozinho esfarelou-o no bôlso e, de quando em quando, parava a fim de, jeitosamente, deixar cair as migalhas. – Que tanto olhas para trás, Joãozinho, e por que te demoras? – perguntou o pai. – Estou olhando para o meu pompinho que está a dizer-me adeus de cima do telhado. – És um tolo, – disse a mulher – não vês então que não é o teu pompinho, mas sim o sol nascente, que brilha na chaminé. Entretanto, o menino fôra esparramando, pouco a pouco, as migalhas pelo longo do caminho.

Dessa vez a madrasta conduziu as crianças ainda mais para o interior da floresta, para um lugar em que jamais haviam estado. Acenderam, novamente, uma grande fogueira e ela disse-lhes:
– Ficai aqui, quietinhos, meninos. Quando estiverdes cansados, deitai-vos e dormi um pouco; enquanto isso, nós iremos rachar lenha e, à tarde, ao terminar nosso trabalho, viremos buscar-vos. Ao meio-dia, Margarida repartiu seu pedaço de pão com Joãozinho, que havia espalhado o dêle pelo caminho. Depois adormeceram e anoiteceu; mas ninguém foi buscá-los. Acordaram quando ia alta a noite e a menina pôs-se a chorar. Joãozinho consolou-a, dizendo:
– Espera até surgir a lua, aí então veremos as migalhas de pão que espalhei e por elas encontraremos o caminho de casa. Quando surgiu a lua, levantaram-se, mas não encontraram mais nem uma só migalha; os passarinhos, que andam por tôda parte, tinham comido tôdas. Joãozinho então disse à Margarida:
– Não tem importância, havemos de encontrar o caminho de qualquer maneira. Não encontraram o caminho e caminharam tôda a noite e mais um dia inteiro sem conseguir sair da floresta. Estavam com uma fome tremenda, pois só tinham comido algumas amoras, e tão cansados que as pernas não se agüentavam mais; então, deitaram-se debaixo de uma árvore e adormeceram.

Era já a terceira manhã, depois que haviam saído da casa do pai; retomaram novamente o caminho, mas cada vez se embrenhavam mais pela floresta a dentro e, se ninguém viesse em seu socorro, certamente acabariam morrendo de fome. Ao meio-dia, avistaram um lindo passarinho, alvo como a neve, pousado num galho; cantava tão maviosa- mente que os meninos pararam para ouvi-lo. Quando acabou de cantar, saiu a voar na frente dêles, que o foram acompanhando, e assim chegaram a uma casinha onde o passarinho foi pousar no telhado. Chegando bem perto, viram que a casinha era feita de pão-de-ló e coberta de torta, com janelinhas de açúcar cândi.
– Mãos à obra!

– exclamou satisfeito Joãozinho – podemos fazer uma excelente refeição. Eu comerei um pedaço do telhado e tu, Margarida, podes comer um pedaço da janela; é doce. Joãozinho ergueu-se na ponta dos pés, estendeu as mãos e arrancou um pedaço de telhado para provar que sabor tinha. Margarida, aproximando-se dos vidros da janela, pôs-se a lambiscá-los. Então, de dentro da casa, saiu uma vòzinha estridente:
– Rapa, rapa, rapinha,
Quem rapa a minha casinha?
Os meninos responderam:
– O vento, sou eu. O filho do céu.
e continuaram comendo, sem se perturbar. Joãozinho, que achava o telhado delicioso, arrancou um belo pedaço e Margarida apoderou-sc de um vidro inteiro, redondo; sentou-se no chão e comeu-o deliciada. Mas, de repente, abriu-se a porta e num passo trôpego saiu uma velha decrépita, apoiada numa muleta. Joãozinho e Margarida assustaram-se de tal maneira que deixaram cair o que tinham nas mãos.

A velhinha, porém, meneando a cabeça, disse-lhes:
– Ah, meus queridos meninos, quem vos trouxe aqui? Entrai e ficai comigo, aqui nenhum mal vos acontecerá. Pegou-os pela mão e levou-os para dentro da casinha. Aí serviu-lhes uma deliciosa refeição, composta de leite e bolinhos, maçãs e nozes; depois foram preparadas para êles duas lindas caminhas, muito limpas e alvas; Joãozinho e Margarida, muito cansados, deitaram-se, julgando estar no céu. A velha fingia ser muito boa, mas na verdade era uma bruxa muito má, que atraía as crianças; para isso havia construido a casinha de pão-de-ló. E, quando caía em suas mãos alguma criança, ela matava-a, cozinhava-a e comia-a, e êsse dia era para a bruxa um dia de festa. As bruxas são, geralmente, míopes e têm os olhos vermelhos, mas são dotadas de um olfato muito agudo, como os animais, o que lhes permite pressentir a chegada de criaturas humanas. Portanto, quando Joãozinho e Margarida se aproximaram da casa, ela riu sarcasticamente, dizendo com os seus botões: „Estes cairam em meu poder, não me escaparão mais.“
Pela manhã, bem cedinho, antes que os meninos acordassem, levantou-se e foi espiá-los. Vendo-os bochechudos e coradinhos, a dormir como dois anjinhos, murmurou: „Que petisco delicioso vou ter!“ E agarrando Joãozinho com seus dedos aduncos, levou-o para um chi- queirinho, trancando-o dentro das grades de ferro; e de nada lhe adiantou gritar e esperneur. Depois foi ter com Margarida. Com um safanão, despertou-a e gritou:
– Levanta-te, preguiçosa! Vai buscar água e prepara uma boa comidinha para teu irmão, que está prê- so no chiqueirinho e deve engordar. Pois, assim que estiver bem gordinho, quero comê-lo. Margarida desatou a chorar amargamente. Mas seu pranto foi inútil e teve mesmo de fazer o que lhe ordenava a perversa bruxa.

Margarida, então, preparava os manjares mais requintados para Joãozinho, enquanto ela não recebia mais do que algumas cascas de caranguejos para comer. Cada manhã a velha arrastava-se até junto da grade e dizia:
– Joãozinho, mostra-me teu dedinho, quero ver se está gordinho! Joãozinho, porém, mostrava-lhe sempre um ossinho e a velha, que era extremamente míope, não podendo ver direito, julgava que fôsse o dedo do menino, ficando muito admirada por êle nunca engordar. Passadas quatro semanas, visto que Joãozinho continuava sempre magro, perdeu a paciência e resolveu não esperar mais. – Vamos, Margarida, – ordenou à menina – traz água depressa; gordo ou magro não importa, matarei assim mesmo Joãozinho e amanhã o comerei. Como chorou a pobre irmãzinha ao ter de trazer a água! Como lhe corriam abundantes as lágrimas pelas faces! – Ah, Deus bondoso, ajuda-nos! – implorava ela. – Antes nos tivessem devorado as feras no meio da floresta! Pelo menos teríamos morrido juntas! – Deixa de lamentações, – gritou-lhe a velha – elas de nada adiantam. Pela manhã, bem cedinho, Margarida teve de ir buscar água, encher o caldeirão e acender o fogo. – Primeiro vamos assar o pão, já preparei a massa, – disse a bruxa – e já acendi o forno. Empurrou a pobre Margarida para perto do forno do qual saíram grandes labaredas. – Entra lá dentro, – disse a velha – e vê se já está bem quente para poder assar o pão. Assim, pensava a bruxa, quando Margarida estivesse lá dentro, fecharia a bôca do forno, e a deixaria assar para comê-la também. A menina, porém, adivinhando sua intenção, disse:
– Eu não sei como se faz! Como é que se entra? – Tonta, estúpida, – disse a velha – a abertura é bastante grande, olha, até eu poderia entrar! Assim dizendo, abeirou-se da bôca do forno, aproximando a cabeça. Margarida, então, com um forte empurrão fê-la entrar dentro e fechou ràpidamente a porta de ferro com o cadeado. Uh! Que berros horríveis soltava a bruxa! Margarida, porém, saiu correndo e a velha acabou morrendo, miseràvelmente queimada.

Chegando ao chiqueirinho, a menina abriu a portinhola, dizendo ao irmão:
– Joãozinho, corre, estamos livres; a velha bruxa morreu. Joãozinho então saiu pulando, alegre como um passarinho ao lhe abrirem a guiola. Com que felicidade se abraçaram e beijaram, rindo e dançando? Como nada mais tinham a temer, percorreram a casinha da bruxa
e viram espalhadas pelos cantos grandes arcas cheias de pérolas e pedrarias preciosas. – Estas são bem melhores do que os seixozinhos! – disse Joãozinho, enquanto ia enchendo os bolsos até não poder mais. – Também eu, – disse Margarida – quero levar um pouco disso para casa. – E foi enchendo o avental. – Agora vamo-nos embora daqui, – disse Joãozinho – temos que sair da floresta da bruxa. Após terem andado durante algumas horas, chegaram à margem de um rio muito largo. – Não é possível atravessá-lo, – disse Joãozinho
– pois não vejo ponte alguma. – Nem mesmo um barquinho, – disse Margarida,
– mas olha, aí vem vindo uma pata branca; se lhe pedirmos, ela certamente nos ajudará a atravessar. Pôs-se a chamá-la:
– Patinha, patinha. Cá estão João e Guidinha. Não podemos passar,
Queres nos levar?
A pata acercou-se da margem e Joãozinho sentou- se-lhe nas costas, dizendo à irmãozinha que também sentasse, bem juntinho dêle. Mas Margarida respondeu:
– Não, ficaria muito pesado para a boa patinha, é melhor que ela nos transporte um de cada vez. Assim féz a boa patinha; e quando, felizmente, chegaram ao outro lado, depois de caminhar um bom percurso, o bosque foi-se tornando sempre mais familiar até que por fim viram a casa paterna. Deitaram a correr
em sua direção, e lá chegando, precipitaram-se para dentro, onde se lançaram ao pescoço do pai, cobrindo-o de beijos.

O pobre homem nunca mais tivera uma hora feliz desde que abandonara as crianças no meio da floresta. A mulher (para felicidade de todos) havia morrido. Então Margarida sacudiu o avental, deixando rolar pelo chão as pérolas e as pedras preciosas; Joãozinho acrescentou todo o conteúdo de seus bolsos. Acabaram-se todos os sofrimentos e preocupações e, desde êsse dia, viveram os três contentes e felizes pelo resto da vida. „Minha história acabou, um rato passou, quem o pegar, poderá sua pele aproveitar.“

Antecedentes
Interpretações
Língua
„João e Maria“ é um conto de fadas clássico dos Irmãos Grimm que explora temas de pobreza, abandono, astúcia e resiliência. A história começa com um pobre lenhador e sua esposa, que, enfrentando tempos de fome, decidem abandonar seus dois filhos, Joãozinho e Margarida, na floresta. A madrasta, cheia de desesperança, convence o relutante pai a seguir este plano cruel.
Joãozinho, sendo esperto, ouve o plano dos pais e coleta seixos brancos para marcar o caminho de volta para casa. Na primeira vez, ele e Margarida conseguem retornar utilizando as pedras como guia. No entanto, quando a situação piora, os pais os deixam novamente na floresta. Desta vez, Joãozinho tenta usar migalhas de pão para marcar o caminho, mas os pássaros as comem, deixando-os perdidos.
Durante suas andanças, os irmãos encontram uma casa feita de doces, pertencente a uma bruxa má que os atrai com a intenção de comê-los. A astúcia da bruxa é confrontada pelo engenho das crianças; Joãozinho engana a bruxa, fingindo não engordar ao mostrar um ossinho no lugar de seu dedo e, finalmente, Margarida empurra a bruxa para dentro do forno, salvando-se a ambos.
Ao explorar a casa da bruxa, encontram tesouros que levam consigo. Ao retornarem à casa do pai, descobrem que a madrasta morreu e, com as riquezas da bruxa, acabam com seus problemas e vivem felizes para sempre. Essa narrativa é rica em simbolismo e se mantém relevante tanto por seu enredo envolvente quanto pelas lições morais subjacentes.
O conto „João e Maria“, dos Irmãos Grimm, é um clássico da literatura infantil, que atrai várias interpretações e reflexões. A história fala sobre abandono, inteligência e esperança diante de um cenário de escassez e sobrevivência. Diversas interpretações podem ser feitas a partir dessa narrativa:
Crítica Social e Econômica: A história reflete a dura realidade da fome e pobreza. João e Maria foram abandonados pelos pais, que enfrentavam dificuldades extremas. Este tema pode ser uma crítica à sociedade que falha em cuidar dos mais vulneráveis, forçando-os a medidas extremas.
Rito de Passagem: O conto também pode ser visto como um rito de passagem. João e Maria passam por provações que os levam à maturidade e à independência. Eles enfrentam perigos e aprendem a confiar na própria astúcia para sobreviver.
A Dualidade do Lar: A casa encantada da bruxa representa um tipo de lar, oferecendo conforto e provisões, mas também risco mortal. Isso pode refletir a ideia de que nem tudo que é acolhedor é seguro, e que a segurança de verdade pode ser encontrada na autonomia e na família genuína.
A Força do Trabalho em Equipe: A cooperação entre João e Maria é essencial para a sua sobrevivência. João usa a inteligência e estratégia, enquanto Maria demonstra coragem e compaixão, especialmente no confronto final com a bruxa. Isso destaca a importância do trabalho em equipe e da complementaridade das habilidades.
O Papel das Mulheres: A história também oferece uma visão complexa sobre o papel das mulheres, contrastando a figura da madrasta cruel e a bondade e coragem de Maria. Isso apresenta uma dualidade nos papéis e na percepção das mulheres—tanto como figuras protetoras quanto antagonistas.
Elementos Sobrenaturais e Culturais: A bruxa, um elemento recorrente em contos de fadas, representa temores culturais em relação ao desconhecido e à figura da mulher poderosa, frequentemente marginalizada e demonizada. Este aspecto pode ser interpretado como um reflexo dos medos e preconceitos sociais de quando o conto foi escrito.
A riqueza da narrativa de „João e Maria“ permite que cada leitor traga suas próprias experiências para a interpretação, observando nela diferentes lições de moral e entendimentos culturais.
A análise linguística de um conto de fadas como „João e Maria“ dos Irmãos Grimm envolve várias camadas, incluindo temas, estrutura narrativa, personagens, e o uso da linguagem. Introdução: A história começa com a apresentação do cenário – uma família pobre vivendo próximo a uma floresta. A crise financeira é estabelecida imediatamente, lançando o conflito central.
Desenvolvimento: A madrasta cruel convence o pai a abandonar as crianças na floresta. Os eventos subsequentes seguem uma estrutura típica de desafio e tentativa de resolução, com Joãozinho usando pedras para encontrar o caminho de casa após serem abandonados pela primeira vez e depois migalhas de pão na segunda tentativa.
Clímax: A captura pelas bruxa marca o ponto alto do conflito. Aqui, a tensão aumenta com a ameaça de João ser comido pela bruxa.
Desfecho: A engenhosidade de Margarida salva os dois irmãos da bruxa, encerrando o conflito principal. Eles encontram tesouros na casa da bruxa e retornam para casa, onde reencontram o pai.
Conclusão: A história fecha com a restauração da harmonia familiar após a morte da madrasta e a provisão de riqueza, cumprindo a estrutura tradicional de punição para o mal e recompensa para os protagonistas.
Joãozinho: Representa a astúcia e o engenho infantil. Ele desempenha o papel de líder e estrategista.
Margarida: Embora inicialmente mais passiva, ela mostra coragem e capacidade de agir sob pressão quando empurra a bruxa para o forno.
Madrasta: Arquetípica de maldade e crueldade. Ela é o catalisador do conflito, representando um trope factível em contos de fadas para criar tensão.
Pai: Um personagem fraco e relutante, sua indecisão e submissão contribuem para a situação precária das crianças.
Bruxa: Incorporando o mal absoluto, ela é a antagonista final cuja derrota simboliza a vitória do bem sobre o mal.
Sobrevivência e Astúcia: A história destaca a capacidade de superação e resiliência das crianças em face de adversidades severas.
Crítica Social: O conto pode ser visto como uma crítica à extrema pobreza e pressões sociais que podem levar à decisões moralmente questionáveis.
Segurança Familiar: O retorno seguro ao lar e a recuperação do pai como figura protetora demonstra a importância das unidades familiares estáveis.
Repetição: Os elementos repetitivos, como o duplo abandono, reforçam o senso de inevitabilidade e tensão crescente.
Diálogo Direto: Atras de diálogo, os sentimentos e intenções dos personagens são claras, particularmente no conflito entre a madrasta e o pai.
Simplicidade: A linguagem é direta e acessível, típica dos contos de fadas, facilitando a compreensão para crianças.
Consequências das Más Ações: A morte da madrasta e da bruxa pode servir para ensinar lições sobre a moralidade e as consequências de ações malévolas.
A Bondade Suplantando o Mal: A narrativa recompensa virtudes como engenhosidade, coragem e bondade.
No geral, „João e Maria“ é uma obra rica, cheia de simbolismo e temas universais, que continua a ensinar e entreter gerações, mantendo-se relevante através do tempo.
Informação para análise científica
Indicador | Valor |
---|---|
Número | KHM 15 |
Aarne-Thompson-Uther Índice | ATU Typ 327A |
Traduções | DE, EN, EL, DA, ES, FR, PT, FI, HU, IT, JA, NL, PL, RO, RU, TR, VI, ZH |
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson | 38.8 |
Flesch-Reading-Ease Índice | 24.7 |
Flesch–Kincaid Grade-Level | 12 |
Gunning Fog Índice | 16.5 |
Coleman–Liau Índice | 11.4 |
SMOG Índice | 12 |
Índice de legibilidade automatizado | 7.7 |
Número de Caracteres | 15.450 |
Número de Letras | 12.111 |
Número de Sentenças | 179 |
Número de Palavras | 2.619 |
Média de Palavras por frase | 14,63 |
Palavras com mais de 6 letras | 632 |
percentagem de palavras longas | 24.1% |
Número de Sílabas | 5.183 |
Média de Sílabas por palavra | 1,98 |
Palavras com três sílabas | 748 |
Percentagem de palavras com três sílabas | 28.6% |