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Certo dia, estavam sentados, em frente de pobre casinha, um homem e sua esposa, descansando do trabalho. Nisto chegou uma bela carruagem, atrelada com quatro cavalos pretos, e dela apeou um senhor luxuosamente vestido. O campônio levantou-se e foi ao encontro do senhor, perguntando o que desejava e em que podia servi-lo. O desconhecido apertou-lhe a mão e disse: – Desejo, apenas, saborear um prato dessa boa comida do campo. Preparai algumas batatas à vossa maneira, sentar-me-ei à mesa convosco e as comerei com imenso prazer. O campônio sorriu e disse:
– Vós sois, sem dúvida, conde ou príncipe, talvez mesmo duque; os grandes fidalgos costumam ter desses desejos! E o vosso será satisfeito. A mulher foi para a cozinha e começou a lavar e descascar as batatas, querendo fazer um bom prato de „nhoques,“ desses que os camponeses tanto apreciam. Enquanto ela cuidava dessa tarefa, o campônio disse ao desconhecido:
– Enquanto esperamos, vinde comigo até à horta; ainda tenho de terminar um pequeno serviço lá. Na horta, ele havia aberto algumas covas onde pretendia plantar mudas de árvores. – Não tendes nenhum filho que vos possa ajudar? – perguntou o desconhecido. – Não, – respondeu o campônio, e acrescentou: – Na verdade tive um mas, há muito tempo ele nos deixou para correr mundo. Era um rapaz viciado, inteligente e malicioso, mas não tinha vontade de aprender coisa alguma; só sabia pregar-me as piores peças. Um dia, fugiu de casa e nunca mais tive notícias dele. Assim dizendo, o campônio colocou uma muda dentro da cova o enfiou uma estaca ao lado; depois de socar bem a terra em volta, amarrou a haste ao pau, embaixo, no meio e no alto, com um cipòzinho. – Dizei-me uma coisa, – disse o desconhecido, – por que não amarrastes uma estaca também àquela árvore torta ali do canto, àquela contorcida e nodosa que está vergada quase até ao chão? O velho sorriu e disse:
– Senhor, falais como todos os que não entendem do assunto; bem se vê que nunca lidastes com uma horta. Aquela árvore contorcida já está velha e ninguém poderá mais endireitá-la. As árvores devem ser endireitadas quando são novinhas. – Tal como o vosso filho! – disse o desconhecido; – se o tivésseis educado quando era pequenino, não teria fugido de casa. Agora ele, também, se terá endurecido e contorcido. – Naturalmente! – respondeu o campônio. – Já faz tanto tempo que se foi, deve estar bem mudado! – Se ele se apresentasse agora, ainda o reconheceríeis? – perguntou o desconhecido. – Pela cara, dificilmente! – respondeu o campônio, – mas o reconheceria por um sinal em forma de feijão que tem no ombro. Quando ele disse isto, o desconhecido despiu o paletó, descobriu o ombro e mostrou o sinal em forma de feijão. – Senhor Deus meu! – exclamou o velho: – então és o meu filho! E o amor paterno agitou-lhe o coração; mas acrescentou:
– Como é possível que sejas meu filho, se és fidalgo e vives na opulência e na fartura? Por quê caminho chegaste a tal altura? – Ah, meu, pai! – respondeu o filho, a arvorezinha tenra não foi amarrada à estaca, no tempo devido, e cresceu torta! Agora está velha e não endireita mais. Como ganhei tudo isto? Tornei-me ladrão. Oh não te assustes, eu sou um mestre ladrão! Para mim, não existem fechaduras ou ferrolhos que resistam; quando quero alguma coisa, tomo-a. Não creias, porém, que me reduzi a roubar como gatuno vulgar; eu apodero-me, somente, do supérfluo dos ricos; os pobres podem ficar descansados, a eles prefiro dar do que tomar. Assim como não me interessa o que me possa vir ás mãos sem trabalho, astúcia ou habilidade. – Ah, meu filho, – disse tristemente o pai, – de qualquer maneira teu ofício não me agrada; ladrão é e será sempre ladrão, e nunca acaba bem, digo-te eu! Conduziu-o à presença de sua mãe e, quando esta soube que ele era seu filho, chorou de alegria; e quando ficou sabendo que ele era ladrão mestre, as lágrimas corriam-lhe das faces como caudais. Entretanto, assim que conseguiu falar, disse:
– Mesmo que se tenha tornado ladrão, é sempre meu filho, e meu olhos tiveram a graça de vê-lo ainda uma vez! Depois, foram para a mesa e ele comeu em companhia dos pais a modesta comida caseira, que há tanto tempo não comia. O pai lembrou:
– Se nosso amo, o conde lá do castelo, souber quem és e o que fazes, creio que não te pegará no colo e não te ninará como quando te levou à pia batismal; acho que te mandará balouçar na ponta da corda de uma forca. – Não te preocupes, meu pai; ele não me fará nada; pois sei bem como são as coisas. Hoje mesmo irei visitá-lo. Ao cair da tarde, o ladrão subiu na carruagem e foi ao castelo. O conde recebeu-o amavelmente, julgando que fosse um grande fidalgo. Mas, assim que ele se deu a conhecer, o conde empalideceu e, durante alguns minutos, perdeu a fala. Depois disse:
– Tu és meu afilhado, por isso serei clemente e te tratarei com toda a indulgência. Como, porém, te gabas de ser ladrão mestre, quero pôr à prova tua habilidade. Mas, se fizeres fiasco, eu te mandarei dançar na ponta da corda pelo espaço e, como música de acompanhamento, terás o doce crocitar dos corvos. – Senhor conde, – respondeu o ladrão, – inventai três empreendimentos difíceis quanto quiserdes, se eu não os levar a cabo, fazei de mim o que vos aprouver. O conde pensou durante alguns minutos e depois disse:
– Está bem! Em primeiro lugar, deves roubar da cavalariça meu cavalo predileto; em segundo lugar, quando minha mulher e eu estivermos dormindo, tens de tirar o lençol que temos debaixo do corpo sem que possamos perceber; também tens de tirar a aliança que minha mulher traz no dedo; por fim, tens que raptar da igreja o padre e o sacristão. Toma nota de tudo direito, porque é a tua vida que está em jogo. O mestre ladrão despediu-se e foi à cidade vizinha. Lá adquiriu a roupa de uma velha campònia e vestiu-se. Pintou o rosto de cor bronzeada, desenhando algumas rugas. de maneira a ficar irreconhecível; em seguida, comprou um barrilete de velho vinho da Hungria, misturando-lhe forte narcótico. Meteu o barrilete num cesto. que pôs às costas e, com passos trôpegos e arrastados, voltou ao castelo do conde. Quando chegou lá, já era escuro. Sentou-se numa pedra que havia no terreiro, pôs-se a tossir como uma velha asmática e a esfregar as mãos como se estivesse morrendo de frio. Em frente à cavalariça, havia um grupo de soldados, deitados ao pé de uma fogueira; um deles, vendo aquela velha a tossir, gritou-lhe:
– Ei, avozinha, chega aqui perto, vem aquecer-te conosco. Cama para dormir não tens mesmo e deves aceitar o que te oferecem, vem pois aquecer-te aqui! A velha aproximou-se com passinhos miúdos e pediu que lhe tirassem o cesto das costas; depois sentou-se junto deles ao pé do fogo. – Que tens aí nesse barrilzinho, velha bruxa? – perguntou um dos soldados. – Tenho um dedo de excelente vinho, – respondeu ela; – preciso vender alguma coisa, se quero viver! Dinheiro e boas palavras, com isso poderás ter um copo. – Vamos lá, dá-me um copo, então! – exclamou o soldado e, depois de provar o vinho, disse: – quando o vinho é bom, gosto de beber mais de um copo! – e pediu mais. Os outros seguiram-lhe o exemplo. – Olá, camaradas! – gritou um deles aos que estavam dentro da cocheira. – Está aqui a vovozinha oferecendo um vinho tão velho quanto ela mesma; tomai um copo que isso vos aquecerá o estômago melhor que o fogo. A velha levou o barrilete dentro da cachoeira. Um dos soldados estava montado no cavalo predileto do conde; outro o estava segurando pelo freio, e o terceiro pelo rabo. A velha pôs-se a distribuir o excelente vinho tanto quanto lho pediam e, assim, foi até esvaziar o barrilete. Não demorou muito, o soldado que segurava o freio largou-o e rolou pelo chão, onde se pôs a roncar deliciosamente; o outro largou o rabo, caiu deitado e roncou mais alto ainda; o que estava montado, permaneceu na sela, mas pendeu o corpo para a frente até tocar com a cabeça no pescoço do cavalo; ferrou no sono e assoprava como um velho fole. Lá fora, os demais dormiam há muito, deitados no chão e imóveis como se fossem de pedra. O ladrão, ao ver que tudo lhe saíra às mil maravilhas, colocou uma corda na mão daquele que segurava o freio; ao que segurava o rabo, pós-lhe na mão um punhado de palha; mas que devia fazer com o que estava montado no cavalo? Não queria botá-lo para baixo com receio que despertasse e fizesse um escarcéu. Finalmente, descobriu um expediente: desafivelou a correia que prendia a sela, passou umas cordas nas argolas que havia nas traves, prendeu a sela com o cavaleiro montado e sus- pendeu-a, depois amarrou firmemente as cordas num pau. Feito isto, foi facílimo subtrair o cavalo; mas para sair montado, o barulho das ferraduras poderia chamar a atenção, então enrolou alguns trapos nos cascos do cavalo, levou-o para fora da cocheira e, montando nele, disparou a todo galope. Na manhã do dia seguinte, o ladrão dirigiu-se a rédeas soltas para o castelo, todo pimpão no cavalo roubado. O conde acabava de levantar-se e estava à janela.
– Muito bom dia! – gritou de baixo o ladrão. – Eis aqui o cavalo, que tirei com a maior facilidade da cavalariça. Ide ver como dormem os vossos soldadas, como bem-aventurados estão lá deitados no chão, e podeis ver, também, na cavalariça como se acomodaram os vossos guardas! O conde não pôde conter-se e, dando uma risada, disse:
– Da primeira vez te saíste bem, mas na segunda não te será tão fácil. A divirto-te, entretanto, que, se te apanho como um ladrão qualquer, trato-te como tal. A noite, quando marido e mulher foram deitar-se, a condessa fechou a mão bem apertada, segurando firmemente a aliança, e o conde disse-lhe:
– As portas estão todas trancadas; eu ficarei acordado e, se o ladrão tentar entrar pela janela, dou-lhe um tiro. Entretanto, em meio às trevas da noite, o ladrão foi ao local das forcas, cortou a corda de um pobre enforcado e carregou-o às costas até ao castelo. Em seguida, colocou uma escada sob a janela do quarto e, com o morto sentado sobre os ombros, foi subindo. Ao chegar à altura em que a cabeça do morto aparecia na janela, parou. O conde, que da cama estava espreitando, apertou o gatilho e deu-lhe um tiro; o ladrão soltou, imediatamente, o defunto, pulou da escada e correu a esconder-se num canto. A noite estava tão claramente iluminada pelo luar que o mestre pôde ver, perfeitamente, o conde saindo pela janela; depois desceu pela escada e levou o morto até ao jardim. Uma vez lá, deu-se ao trabalho de abrir uma cova para o enterrar. – Agora é o momento azado! – disse de si para si o ladrão. Deslizou, mais que depressa, do esconderijo, trepou pela escada e foi direitinho ao quarto da condessa. – Minha cara mulher, – disse ele imitando a voz do conde: – O ladrão está morto, mas de qualquer maneira era meu afilhado, mais velhaco do que malvado. Portanto, não quero expô-lo à vergonha pública, mesmo porque tenho pena daqueles pobres pais; vou enterrá-lo, eu mesmo, no jardim, antes que amanheça, para que ninguém venha a saber de coisa alguma. Dá-me o lençol para amortalhá-lo, assim não será enterrado como um cão. A condessa entregou-lhe o lençol. – E, sabes? – prosseguiu o ladrão – terei para com ele um rasgo de generosidade; dá-me, também, tua aliança, afinal de contas esse infeliz arriscou a vida por causa dela; que a leve consigo para a sepultura. A condessa, embora a contragosto, não quis opor-se à vontade do conde e, tirando o anel do dedo, entregou-lho. O ladrão, tendo em poder as duas coisas, tornou a sair pela janela e chegou a casa sem inconvenientes, antes que o conde tivesse terminado o trabalho de coveiro no jardim. Imagine-se, agora, que cara fez o conde na manhã seguinte, quando o mestre ladrão apareceu levando-lhe o lençol e a aliança! – Possuis acaso a varinha mágica? – perguntou-lhe; – quem te desenterrou da cova onde com minhas próprias mãos te coloquei? Quem foi que te ressuscitou? Rindo-se, o ladrão respondeu:
– Não foi a mim que enterraste! Foi àquele infeliz que estava na forca. E narrou, detalhadamente, como se passaram as coisas. O conde teve que admitir que era um ladrão hábil e inteligente. – Mas não terminaste ainda, – disse-lhe; – falta levares a cabo o terceiro empreendimento; se nesse não tiveres êxito, tudo o mais não te valerá de nada. O ladrão sorriu e não respondeu nada. Quando caiu a noite, dirigiu-se à igreja da aldeia, levando um comprido saco nas costas, um embrulho debaixo do braço e uma lanterna na mão. Dentro do saco havia uma porção de caranguejos e, no embrulho, outras tantas velinhas de cera. Penetrou no cemitério junto à igreja, sentou-se no chão, pegou um caranguejo e gradou-lhe uma velinha nas costas; acendeu-a e soltou o bichinho. Fez o mesmo com outros e continuou assim até acabar com todos os que estavam no saco. Em seguida, vestiu uma túnica preta, parecida com burel de frade, grudou longa barba branca no queixo e ficou completamente irreconhecível. Depois, pegou o saco no qual trouxera os caranguejos, encaminhou-se para a igreja e subiu no púlpito. O relógio da torre acabava justamente de bater o último toque das doze horas; então ele gritou com voz tronitroante:
– Ouvi-me, pecadores! Chegou o fim de todas as coisas; o dia do Juízo está próximo! Ouvi! Ouvi! Quem quiser subir comigo para o céu, entre neste saco! Eu sou São Pedro, o que abre e fecha as portas do céu; olhai lá fora, no cemitério, os mortos já estão recolhendo seus ossos. Vinde! Vinde depressa! Entrai neste saco! Chegou o fim do mundo! Aqueles brados repercutiram por toda a aldeia. O padre e o sacristão, que moravam mais perto da igreja, foram os primeiros a ouvir o estranho apelo; e, quando viram todas aquelas luzinhas caminhando pelo cemitério, convenceram-se de que algo de extraordinário estava sucedendo e foram correndo para a igreja. Durante alguns momentos, ficaram escutando o sermão, depois o sacristão deu uma cotovelada no padre o disse:
– Não seria nada mau se aproveitássemos a oportunidade e juntos fôssemos, confortavelmente, para o céu, antes que chegue o dia do Juízo! – Naturalmente, – respondeu o padre, – também penso assim; se estás disposto, ponhamo-nos a caminho. – Sim, – disse o sacristão, – mas vós, reverendo, tendes direito de precedência; eu vos seguirei. Assim o padre foi o primeiro a subir até ao púlpito, onde o ladrão o acondicionou dentro do saco; em seguida foi a vez do sacristão. O mestre, mais que depressa, amarrou fortemente a boca do saco e arrastou-o pela escada do púlpito abaixo; cada vez que as cabeças dos dois malucos batiam nos degraus, ele gritava:
– Agora estamos atravessando as montanhas. Dessa maneira levou-os através da aldeia e, quando
passavam dentro de alguma poça d’água, ele gritava:
– Agora atravessamos as nuvens molhadas. Finalmente, quando iam subindo a escadaria do castelo, dizia:
– Agora estamos subindo as escadas do Céu, em breve chegaremos ao vestíbulo. Chegando lá em cima, ele empurrou o saco para dentro do pombal e, quando as pombas assustadas começaram a bater as asas, disse:
– Estais ouvindo como os anjos se alegram e batem as asas de contentamento? Então, puxou o trinco da porta e foi-se embora. Na manhã seguinte, apresentou-se ao conde e comunicou-lhe que se havia desincumbido, também, do terceiro empreendimento e rapatara da igreja o padre com o sacristão. – Onde os puseste? – perguntou meio incrédulo o conde. – Estão dentro de um saco, lá no pombal, e julgam que estão no céu! O conde, foi pessoalmente, verificar e convenceu-se de que o outro dissera a verdade. Libertou o padre e o sacristão e depois disse ao mestre:
– Tu és um super-ladrão e ganhaste a tua causa. Por esta vez, escapas com a pele inteira, mas trata de sumir das minhas terras; e, se te mostrares outras vez por aqui, podes contar que serás dependurado na forca. O mestre ladrão, foi despedir-se dos pais e voltou a correr mundo; nunca mais ouviu-se falar nele.

Antecedentes
Interpretações
Língua
„O Ladrão Mestre“ é uma fascinante história dos Irmãos Grimm que explora temas como habilidade, astúcia e moralidade. A narrativa começa em uma humilde casa de campo, onde um casal de camponeses é surpreendido pela chegada de um senhor nobre que deseja experenciar uma refeição camponesa.
O ponto central da história gira em torno do filho do camponês, que havia saído de casa em sua juventude e, depois de muitos anos, retorna com uma aparência nobre e requintada. No entanto, ele revela ao pai que, em sua ausência, tornou-se um mestre ladrão — mostrando habilidades extraordinárias de roubo, mas com um código ético peculiar: só rouba dos ricos para manter-se e não prejudica os pobres.
A história segue com o jovem ladrão aceitando um desafio do conde local, que testa suas habilidades com três tarefas aparentemente impossíveis: roubar o cavalo favorito do conde, retirar discretamente um lençol e uma aliança de sua esposa enquanto dormem, e sequestrar um padre e um sacristão. O desenrolar das tarefas demonstra a inteligência, criatividade e perspicácia do ladrão, que as completa com sucesso, sem ser pego.
A conclusão oferece uma reflexão sobre a esperteza e moralidade, destacando a habilidade do ladrão em vencer os desafios através de sua inteligência, enquanto também sugere uma crítica social sobre a distribuição de riquezas e a justiça. No fim, o conde o liberta, reconhecendo sua sagacidade, mas o expulsa de suas terras para que não precise lidar com as consequências de seus atos no futuro.
Este conto dos Irmãos Grimm, como muitos de seus outros trabalhos, mistura elementos de mistério e moralidade, deixando uma mensagem aberta à interpretação sobre o que significa ser verdadeiramente „mestre“ no que se faz, ao mesmo tempo que questiona as fronteiras entre o bem e o mal.
O conto „O Ladrão Mestre“ dos Irmãos Grimm apresenta uma narrativa clássica em que um personagem astuto usa sua inteligência e habilidades para superar desafios. A história é rica em simbolismo e pode ser interpretada de diferentes maneiras. Aqui estão algumas possíveis interpretações e temas que emergem da narrativa:
A Educação e a Formação do Caráter: A conversa inicial entre o campônio e o desconhecido sobre a árvore torta serve como uma alegoria para a educação e a formação do caráter. O conto sugere que a educação e os valores devem ser incutidos na infância, tal como as árvores devem ser orientadas quando jovens para crescerem retas. No entanto, isso também levanta a questão do destino e da possibilidade de mudança, mesmo quando se está „torto“.
A Dualidade de Moralidade: O ladrão se vê como um „mestre ladrão“ que só rouba dos ricos e até ajuda os pobres, posicionando-se como uma espécie de Robin Hood. Isso questiona a moralidade tradicional ao apresentar um personagem que, embora cometa crimes, tem uma espécie de código de ética pessoal.
A Astúcia sobre a Força: O ladrão utiliza sua inteligência e criatividade para realizar as tarefas extraordinárias que lhe são impostas, enfatizando a engenhosidade sobre a força. As suas ações, que muitas vezes envolvem enganar pessoas, mostram como a inteligência pode ser uma ferramenta poderosa para superar desafios.
O Conceito de Justiça e Recompensa: Apesar de ser um ladrão, o personagem central não é punido no final. Em vez disso, ele é reconhecido por suas habilidades e esperteza, o que desafia a noção convencional de justiça. O conto encerra com o ladrão ímpune, sugerindo que, em alguns contextos, a astúcia pode ser mais valorizada do que a moralidade tradicional.
A Estrutura Social e o Poder: A história coloca em evidência as relações de poder e classe. O ladrão, filho de camponeses, consegue enganar um conde, destacando uma espécie de subversão social onde as classes mais baixas superam as superiores através da inteligência.
O Reconhecimento e o Retorno ao Lar: O retorno do filho prodígio para seus pais, embora em circunstâncias inesperadas, também é um tema central do conto, destacando os laços familiares e o perdão.
Estas interpretações oferecem um vislumbre das camadas complexas dentro de um conto aparentemente simples. Como muitas histórias dos Irmãos Grimm, „O Ladrão Mestre“ proporciona tanto entretenimento quanto reflexão sobre a natureza humana e a sociedade.
O conto „O Ladrão Mestre“, dos Irmãos Grimm, apresenta uma narrativa rica em temas e estruturas típicas dos contos de fadas, como a presença de personagens arquetípicos, desafios, e uma moral implícita. Vamos analisar alguns aspectos linguísticos e temáticos do conto:
Estrutura Tripartite: Como muitos contos de fadas, „O Ladrão Mestre“ segue uma estrutura de três desafios, que o protagonista, o filho ladrão, precisa superar. Esta estrutura é comum em narrativas folclóricas e serve para criar expectativa e suspense no leitor.
Protagonista Antihéroi: O filho ladrão é um tipo de anti-herói que, apesar de suas atitudes moralmente questionáveis, é dotado de inteligência e astúcia, características valorizadas na narrativa. Ele se destaca pela habilidade e engenhosidade, que acabam por conquistar a simpatia dos leitores.
Moral e Mensagem: A história traz reflexões sobre a educação e a maleabilidade do caráter humano. A metáfora das árvores que precisam ser guiadas ainda jovens para crescerem retas serve como uma crítica à falta de orientação durante a infância do protagonista.
Diálogos: Os diálogos são diretos e carregados de intenções claras, comuns em contos de fadas, onde as interações servem tanto para avançar a trama quanto para revelar características dos personagens. Exemplos incluem a conversa inicial entre o camponês e o senhor desconhecido.
Descritividade: As descrições são simples e objetivas, com foco em ações e eventos mais do que em ambientações ou introspecções complexas, mantendo o ritmo rápido e dinâmico, típico dos contos de fadas.
Simbologia: O uso de símbolos, como a carruagem e os quatro cavalos pretos, denota riqueza e status; enquanto o sinal em forma de feijão é um símbolo de identidade única, essencial para o reconhecimento do protagonista.
Humor e Ironia: Existe um humor sutil e uma ironia presente, especialmente na forma como o protagonista engana os personagens de maior status social, como o conde e seus guardas, subvertendo a ordem social e suas expectativas.
O Conde e a Condessa: Representam a nobreza, o poder e a autoridade, mas são subvertidos na narrativa ao serem enganados pelo protagonista, questionando a eficácia e a moralidade do poder estabelecido.
Os Pais Camponeses: Espelham a simplicidade e o carinho familiar, bem como a aceitação incondicional do filho, apesar de suas escolhas questionáveis, refletindo temas comuns em contos de fadas de família e pertencimento.
O Mestre Ladrão: Surge como um arquétipo do trickster, ou trapaceiro, cuja inteligência supera as barreiras sociais e os desafios, uma figura que muitas vezes é celebrada na tradição oral por sua esperteza e habilidade de sobrevivência.
„O Ladrão Mestre“ dos Irmãos Grimm utiliza os elementos clássicos dos contos de fadas para explorar temas de justiça social, educação e o complexo jogo de aparências sociais. O conto, através de sua linguagem simples e narrativas carregadas de simbolismos, cativa ao permitir uma crítica subversiva à hierarquia e normas sociais, enquanto inspira reflexões sobre a natureza humana e seus desvios.
Informação para análise científica
Indicador | Valor |
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Número | KHM 192 |
Aarne-Thompson-Uther Índice | ATU Typ 1525A |
Traduções | DE, EN, ES, FR, PT, IT, JA, NL, PL, RU, TR, VI, ZH |
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson | 35.1 |
Flesch-Reading-Ease Índice | 30.7 |
Flesch–Kincaid Grade-Level | 12 |
Gunning Fog Índice | 15.7 |
Coleman–Liau Índice | 10.4 |
SMOG Índice | 12 |
Índice de legibilidade automatizado | 7.1 |
Número de Caracteres | 15.838 |
Número de Letras | 12.348 |
Número de Sentenças | 182 |
Número de Palavras | 2.776 |
Média de Palavras por frase | 15,25 |
Palavras com mais de 6 letras | 550 |
percentagem de palavras longas | 19.8% |
Número de Sílabas | 5.270 |
Média de Sílabas por palavra | 1,90 |
Palavras com três sílabas | 666 |
Percentagem de palavras com três sílabas | 24% |