Tempo de leitura para crianças: 8 min
Houve, uma vez, na Suíça, um conde que tinha um filho único, mas tão obtuso que não conseguia aprender coisa alguma. Então, o pai disse-lhe:
– Escuta, meu filho, por mais que me esforce, não consigo meter nada dentro da tua cabeça. Precisas ir para fora daqui; eu te confiarei a um mestre muito célebre, que tentará fazer algo de ti. O rapaz foi enviado a uma cidade estranha e hospedou-se na casa do mestre durante ano inteiro. Passado esse tempo, voltou para a casa do pai e este perguntou-lhe:
– Então, meu filho, o que aprendeste? – Meu pai, aprendi o que latem os cachorros, – respondeu o rapaz. – Misericórdia divina! – bradou o pai, – foi tudo o que aprendeste? Vou mandar-te para a casa de outro mestre, em outra cidade. O rapaz foi e passou um ano na casa do segundo mestre. Voltando daí a um ano para casa, o pai perguntou-lhe:
– Que aprendeste, meu filho? – Meu pai, aprendi o que dizem os passarinhos; – respondeu ele. Zangadíssimo, o pai então gritou:
– O perdição humana! Perdeste um tempo precioso e nada aprendeste? E não te envergonhas de aparecer ante meus olhos? Vou mandar-te a um terceiro mestre; se desta vez não aprenderes nada, não quero mais ser teu pai. O filho permaneceu um ano inteiro com o terceiro mestre; quando voltou para casa, o pai perguntou-lhe:
– Vejamos, meu filho, que aprendeste? – Meu pai, – respondeu ele, – neste ano aprendi o que coaxam as rãs. O pai, então, louco de raiva, levantou-se de um salto, chamou a criadagem e disse:
– Este homem não é mais meu filho; expulso-o de minha casa e ordeno que o leveis à floresta e o mateis. Os criados levaram-no à floresta mas, no momento de matá-lo, condoeram-se dele e soltaram-no para que se fosse. Arrancaram os olhos e a língua de um veado, que levaram ao velho conde como testemunho. O rapaz peregrinou durante algum tempo; por fim foi ter a um castelo, onde pediu pouso para aquela noite
– Sim, – disse o castelão, mas só se quiseres pernoitar lá embaixo naquela torre. Advirto-te, porém, que arriscas a vida; a torre está cheia de cães ferozes que latem e uivam sem parar e, em determinadas horas, é preciso dar-lhes um homem, que devoram imediatamente. Em consequência disso, toda a região vivia em luto e mergulhada na tristeza, e não havia quem pudesse solucionar o problema. O rapaz, porém, não tinha medo e disse:
– Irei lá com os cães que uivam; dai-me somente alguma coisa que lhes possa atirar para que comam; a mim não farão mal algum. Sendo essa a sua vontade, deram-lhe só a comida para os cães e o conduziram à torre. Quando penetrou lá dentro, os cães não latiram, mas abanaram amistosamente as caudas e comeram o que lhes apresentou, sem lhe torcer um só fio de cabelo. Na manhã seguinte, saiu de lá são e salvo para assombro geral; foi ao castelão e disse:
– Os cães, na sua linguagem, revelaram-se a razão por que estão aí presos e porque causam tanto dano à região. Estão encantados e precisam guardar um grande tesouro escondido lá embaixo, na torre. Enquanto o tesouro não for desenterrado, eles não se apaziguarão e, sempre na sua linguagem, entendi o que é preciso fazer. Todos se alegraram ao ouvir isso e o castelão propôs adotá-lo como filho se conseguisse resolver tudo da melhor maneira possível. O rapaz tomou a descer à torre e, instruído como deveria agir, desincumbiu-se da tarefa com felicidade; depois levou para cima uma arca cheia de ouro. A partir desse dia, nunca mais se ouviram os medonhos uivos dos cães ferozes; haviam desaparecido; a região ficou livre para sempre desse flagelo. Decorrido algum tempo, o rapaz teve a ideia de viajar a Roma. Pelo caminho, passou junto a um charco e dentro dele as rãs coaxavam seus mexericos. Aguçou o ouvido, prestando atenção ao que diziam; quando percebeu o que estavam a dizer, caiu em profunda tristeza e preocupação. Finalmente, depois de muito andar, chegou a Roma. Lá soube que havia falecido o Papa e reinava grande incerteza entre os Cardeais, que não conseguiam eleger o sucessor. Por fim, convencionaram que seria eleito aquele a quem fosse revelada, por um sinal milagroso, a vontade Divina. Justamente quando assim deliberavam, o jovem conde entrou na igreja e logo duas pombas brancas como neve, foram pousar em seus ombros e lá permaneceram imóveis. O clero reconheceu nisso a vontade Divina e, sem mais delongas, perguntaram-lhe se queria ser eleito Papa. O jovem, indeciso, não sabia se era digno de tal encargo, mas as pombas o persuadiram e ele respondeu que sim. Então, foi ungido e consagrado, cumprindo-se assim aquilo que, com grande consternação sua, ouvira as rãs coaxarem ao passar pelo charco. Pois elas justamente diziam que ele se tornaria Papa. Depois de coroado, teve de celebrar e cantar missa; mas não sabia uma única palavra, pois jamais tinha feito isso; então as pombas, que permaneciam pousadas em seus ombros, o ajudaram, sussurrando-lhe aos ouvidos tudo o que devia fazer e dizer.
Informação para análise científica
Indicador | Valor |
---|---|
Número | KHM 33 |
Aarne-Thompson-Uther Índice | ATU Typ 671 |
Traduções | DE, EN, DA, ES, FR, PT, IT, JA, NL, PL, RU, TR, VI, ZH |
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson | 36 |
Flesch-Reading-Ease Índice | 30.7 |
Flesch–Kincaid Grade-Level | 12 |
Gunning Fog Índice | 16.2 |
Coleman–Liau Índice | 10.3 |
SMOG Índice | 12 |
Índice de legibilidade automatizado | 7.6 |
Número de Caracteres | 4.898 |
Número de Letras | 3.834 |
Número de Sentenças | 53 |
Número de Palavras | 863 |
Média de Palavras por frase | 16,28 |
Palavras com mais de 6 letras | 170 |
percentagem de palavras longas | 19.7% |
Número de Sílabas | 1.628 |
Média de Sílabas por palavra | 1,89 |
Palavras com três sílabas | 211 |
Percentagem de palavras com três sílabas | 24.4% |