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A noiva branca e a noiva preta
Grimm Märchen

A noiva branca e a noiva preta - Contos de fadas dos Irmãos Grimm

Tempo de leitura para crianças: 12 min

Houve, uma vez, uma mulher que tinha uma filha e uma enteada. Certo dia, estavam as três ceifando feno no campo e delas se aproximou o bom Deus, disfarçado de mendigo, e perguntou:

— Por onde passa a estrada que vai à aldeia? — Se queres sabê-lo, vai procurá-la! — respondeu grosseiramente a mãe. E a filha acrescentou:

— Se receias não encontrá-la, arranja um guia. A enteada, porém, interveio dizendo:

— Vem, pobre homem, eu te conduzirei até lá; segue-me. O bom Deus, então, encolerizou-sem com a mãe e a filha; deu-lhes as costas e, como castigo pela sua ruindade, determinou que se tornassem pretas como a noite e feias como o pecado. Ao passo que à enteada dispensou grande magnanimidade. Acompanhado por ela, chegou à aldeia, onde a abençoou e disse-lhe:

— Podes pedir três coisas, que eu tas concederei. A môça pediu:

— Quisera ser tão bela e clara como o sol. Instantâneamente, tornou-se bela e clara como o sol. — Depois, gostaria de ter uma bôlsa que nunca se esvaziasse. O bom Deus deu-lhe a bôlsa, dizendo:

— Não te esqueças da coisa melhor! Então a môça acrescentou:

— A terceira coisa que desejo, é ir para céu quando morrer. Isto, também, lhe foi concedido; e o bom Deus despediu-se dela e se afastou. Quando a madrasta com a filha chegaram a casa e verificaram que estavam pretas como o carvão e muito feias, ao passo que a enteada estava linda e alva como um dia ensolarado, seus corações transbordaram de maldade e não cogitavam outra coisa se não impingir-lhe maiores castigos ainda. A enteada tinha um irmão chamado Reginaldo, ao qual amava extremamente. Contou, pois, ao irmão tudo que se passara. Certo dia, Reginaldo disse à irmã:

— Querida irmãzinha, quero pintar teu retrato ára tê-lo sempre diante dos olhos. Minha ternura por ti é tão grande, que eu gostaria de ver-te a todos os momentos. A irmã concordou, dizendo:

— Peço, te, porém, que nunca mostres a ninguém. O irmão fêz-lhe o retrato e o pendurou na parede do quarto, no castelo real, pois, como cocheiro do rei, habitava lá. E, todos os dias, detinha-se diante do retrato, dando graças a Deus por ter-lhe concedido uma irmã tão bela e tão boa. Isso se passava justamente, na ocasião em que o rei, seu amo, havia perdido a espôsa, a qual fôra tão linda, que não se podia encontrar outra que se lhe assemelhasse, e isso punha o rei desolado. Entretanto, os criados do palácio observaram que o cocheiro detinha-se diàriamente diante daquele belíssimo retrato e, cheios de inveja, foram contar ao rei. O soberano ordenou que lhe levassem o retrato e, vendo que se assemelhava muito à sua falecida espôsa, sendo mesmo muito mais bonita, enamorou-se perdidamente do original. Mandou chamr o cocheiro e perguntou-lhe quem era a jovem retratada. O cocheiro disse que era irmã dêle; então o rei decidiu que não queria outra mulher se não ela. Deu ao cocheiro uma explêndida carruagem e cavalos, suntuosos trajes dourados, e mandou que fôsse buscar a jovem que seria sua espôsa. Quando Reginaldo chegou à casa dela com a mensagem, a irmã ficou radiante de alegria, mas a madrasta e sua filha, loucas de inveja pela sorte do outro, ficaram furiosas. A filha, tremendamente enfurecida, disse à mãe:

— De que servem tôdas as tuas artes, se não consegues proporcionar-me igual felicidade? — Não te exaltes, — respondeu a mãe. — hei de fazer com que a sorte recaia sôbre ti. Por meio de suas magias, ofuscou a vista do cocheiro, deixando-o quase cego; obstruiu os ouvidos da môça, deixando-a meia surda. Em seguida, embarcaram na carruagem, em primeiro lugar a noiva em seus trajes preciosos, depois a madrasta e a filha. Reginaldo ia na boléia, dirigindo os cavalos. Depois de percorrerem em bom trecho do caminho, o cocheiro disse:

–Cobre-te bem, minha irmãzinha,
que não te molhe a chuvinha,
nem o vento te traga poeira,
tens de chegar bela e faceira
para seres a rainha!

A noiva, meio surda, perguntou:

— O que disse meu irmão? — Êle disse que deves tirar êsse traje dourado e dá-lo à tua irmã. A môça despiu o rico vestido e entregou-o à moça preta, que lhe deu em troca um capote velho e feio. Depois de andar mais algum tempo, o irmão tornou a dizer:

–Cobre-te bem, minha irmãzinha,
que não te molhe a chuvinha,
nem o vento te traga poeira,
tens de chegar bela e faceira
para seres a rainha!

A noiva perguntou, outra vez, e a velha respondeu:

— Êle disse que deves tirar teu toucado de ouro e dá-lo à tua irmã. Ela tirou o toucado de ouro e entregou-o à môça preta, ficando sem nada na cabeça. Continuaram mais um bom trecho; e o irmão tornou a repetir:

–Cobre-te bem, minha irmãzinha,
que não te molhe a chuvinha,
nem o vento te traga poeira,
tens de chegar bela e faceira
para seres a rainha!

E a noiva tornou a perguntar:

— O que disse meu irmão? — Êle disse que tens de olhar fora da janela da carruagem. Estavam, justamente, atravessando uma ponte sôbre um rio caudaloso; assim que a jovem se debruçou para fora da janela, as duas megeras deram-lhe um empurrão, fazendo-a cair dentro do rio. Mas, apenas mergulhou na água, veio à tona uma patinha alva como a neve, que foi nadando vio acima. O irmão nada percebera e continuou dirigindo a carruagem, até chegarem ao castelo. Lá chegando, conduziu a môça preta ao rei, pensando ser sua própria irmão, pois tinha os olhos tão ofuscados que nada via além do brilho das roupas douradas. Quando o rei viu a espantosa feiúra daquela que supunha sua noiva, ficou de tal modo enfurecido que mandou atirar o cocheiro numa gruta cheia de serpentes. Entretanto, a velha conseguiu tão bem enredar e estontear o rei com suas artes, que êle conservou junto de si a mãe e filha; melhor, achou esta perfeitamente suportável e acabou casando-se com ela. Uma noite, em que a negra espôsa estava sentada sôbre os joelhos do rei, veio do rio, nadando por um rêgo até a cozinha, a linda pata branca, que disse ao môço da limpeza:

— Rapazinho, acende o fogo,
para as minhas penas enxugar um pouco.

O môço obedeceu, acendendo o fogo na lareira. A patinha sentou-se ao lado, espanejou e alisou bem as penas com o bico. E, enquanto estava lá refazendo-se a calor do fogo, perguntou:

— Que faz meu irmão, Reginaldo?

O môço ajudante respondeu:

— Está prêso, o pobrezinho,
na furna em que as cobras têm o ninho.

A patinha tornou a perguntar:

— E que faz lá em cima,
a negra feiticeira?

O môço respondeu:

— Entre os braços do rei,
ela aconchegada está.

A patinha disse:

— Oh, Deus, tem pena de mim!

e, agradecendo ao rapaz, saiu pelo rêgo e foi nadando para o rio. Ela voltou na noite seguinte e na terceira, fazendo sempre as mesmas perguntas. O rapaz, preocupado com aquilo, quis desabafar e foi contar tudo ao rei; êste, porém, quis ver com seus próprios olhos se era verdade, e na noite seguinte desceu até a cozinha. Assim que viu a patinha botar a cabeça de fora para entrar em casa, tomou da espada e cortou-lhe o pescoço. No mesmo instante, ela tranformou-se na môça mais linda dêste mundo; tal qual o retrato que seu irmão fizera. O rei ficou encantado e feliz; mandou logo que trouxessem as mais belas roupas para a linda jovem, que estava tôda molhada, e mndou que as vestisse. Assim que ficou prnta, ela contou-lhe como fôra cruelmente ludibriada e atirada para dentro do rio. E, antes de mais nada, implorou ao rei que mandasse retirar o querido irmão da gruta das serpentes. Depois de atender ao pedido dela, o rei foi ao quarto onde se encontrava a velha feiticeira e perguntou-lhe:

— Que castigo sugeres para uma pessoa que fêz uma coisa dessas? E narrou tôda a história que acabara de ouvir. A velha estava tão deslumbrada com a sua posição, que nem lhe ocorreu tratar-se do seu próprio caso, e, com a maior naturalidade, respondeu:

— Oh, essa pessoa merece que a dispam completamente e a coloquem dentro de um barril forrado de pontas de pregos, ao qual deve ser atrelado um cavalo que o arraste de uma ponta a outra da cidade. E tal foi a sorte dela e da filha preta. Em seguida, o rei desposou a linda môça do retrato. Recompensou o irmão com grandes honrarias e riquezas, vivendo, depois, todos muito felizes.

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Informação para análise científica

Indicador
Valor
NúmeroKHM 135
Aarne-Thompson-Uther ÍndiceATU Typ 403
TraduçõesDE, EN, DA, ES, FR, PT, FI, HU, IT, JA, NL, PL, RU, TR, VI, ZH
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson34.7
Flesch-Reading-Ease Índice33.3
Flesch–Kincaid Grade-Level12
Gunning Fog Índice15.2
Coleman–Liau Índice9.6
SMOG Índice12
Índice de legibilidade automatizado6.3
Número de Caracteres8.201
Número de Letras6.264
Número de Sentenças98
Número de Palavras1.450
Média de Palavras por frase14,80
Palavras com mais de 6 letras289
percentagem de palavras longas19.9%
Número de Sílabas2.717
Média de Sílabas por palavra1,87
Palavras com três sílabas341
Percentagem de palavras com três sílabas23.5%
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