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Certa vez, a raposa surgiu num prado onde pastava tranquilamente um bando de gansos belos e gordos; vendo-os todos reunidos, ela pôs-se a rir, dizendo: – Chega bem a propósito! Estais todos aqui tão juntinhos que posso devorar-vos um após o outro facilmente. Muito assustados com aquilo, os gansos começaram um berreiro infernal, pulando de um lado para outro, lamentando-se e implorando que lhes poupasse a vida. Mas a raposa não queria saber de nada e disse:
– Não há apelação nem misericórdia; tendes de morrer todos. Por fim, um deles criou coragem e propôs:
– Se nós, pobres gansos, temos mesmo de perder nossas jovens existências, concede-nos pelo menos uma última graça: permite que rezemos as preces a fim de não morrer em pecado; depois nos colocaremos em fila para que não escolhas somente os mais gordos. – Está bem, – disse a raposa, – acho muito justo o pedido; vosso desejo é muito piedoso, podeis rezar. Eu ficarei esperando. Então o primeiro da fila iniciou uma prece bem longa que repetia sem cessar:
– Quá, quá, quá! E como não parasse, o segundo ganso não esperou a vez e por seu turno começou:
– Quá, quá, quá, quá! Imitando o seu exemplo, o terceiro, depois o quarto, o quinto e todos os demais, puseram-se a gritar sem parar todos juntos. (Quando terminarem de rezar, continuaremos a história; por ora estão ainda rezando…)

Antecedentes
Interpretações
Língua
A história „A Raposa e os Gansos“, dos Irmãos Grimm, carrega uma mensagem interessante sobre esperteza e astúcia. A raposa, conhecida por sua sagacidade, encontra os gansos desprevenidos e tem a intenção de devorá-los. No entanto, os gansos, em uma tentativa de adiar seu destino, pedem uma última oportunidade para rezar, aproveitando a distração da raposa com suas orações intermináveis de „quá, quá, quá“.
O conto termina em aberto, com a narrativa pausada enquanto os gansos continuam a rezar. Isso sugere que a esperteza dos gansos, embora inicialmente pareça uma simples tentativa de rezar, na verdade funciona como uma maneira de enganar a raposa, possivelmente permitindo que encontrassem uma oportunidade para escapar. Em muitas histórias de fábulas, animais representam características humanas, e estas narrativas muitas vezes trazem lições sobre inteligência, moralidade e a importância de usar o intelecto para resolver problemas.
A história também exemplifica como, às vezes, astúcia e inteligência podem triunfar sobre a força bruta ou a ameaça imediata, um tema comum em contos populares e fábulas.
A história „A Raposa e os Gansos“ dos Irmãos Grimm oferece uma interessante alegoria sobre astúcia e sobrevivência. Inicialmente, a raposa, símbolo de inteligência e esperteza, encontra os gansos, que representam inocência e, em certa medida, vulnerabilidade. Ao perceber que pode satisfazer sua fome facilmente, a raposa declara sua intenção de comer todos os gansos.
No entanto, a esperteza da raposa é momentaneamente desafiada pela súplica dos gansos, que pedem para rezar antes de serem devorados. Ao consentir com o pedido, a raposa demonstra uma certa indulgência, talvez motivada pela confiança excessiva em seu controle sobre a situação.
Aqui, os gansos revelam sua própria forma de astúcia: a oração interminável que distrai e ocupa o tempo da raposa. Cada ganso se une ao coro, prolongando a execução de seu pedido final e, consequentemente, atrasando seu destino inevitável. Esse comportamento conjunto e contínuo dos gansos sugere uma crítica ao conformismo aparente, que na verdade esconde uma estratégia coletiva de sobrevivência.
A história interrompe-se com os gansos ainda „rezando“, uma metáfora para a habilidade de prolongar a vida através de pequenas ações de resistência passiva. O conto pode ser interpretado como uma lição sobre a importância da união e do uso da inteligência, mesmo quando se enfrenta forças aparentemente superiores.
Se a raposa é a personificação da opressão inevitável, os gansos simbolizam a luta pela vida, utilizando aquilo que têm – a comunicação e o coletivo – para criar uma barreira, ainda que temporária, contra o destino que lhes foi imposto. Assim, „A Raposa e os Gansos“ não é apenas uma fábula sobre predador e presa, mas também um relato sobre esperança e resistência em face da adversidade.
A análise linguística deste conto de fadas dos Irmãos Grimm, „A Raposa e os Gansos“, revela vários aspectos interessantes sobre a estrutura e o uso da linguagem na narrativa.
Estrutura do Discurso: O conto começa com uma descrição da cena e uma introdução direta ao conflito principal: a raposa encontrando os gansos. A narrativa rapidamente se move para o diálogo, que forma o núcleo da interação entre os personagens. Este uso do diálogo é eficaz para desenvolver o enredo e revelar a natureza dos personagens, especialmente a sagacidade da raposa e a astúcia inesperada dos gansos.
Diálogo e Persuasão: A raposa usa uma linguagem direta e autoritária ao declarar sua intenção de devorar os gansos, sem espaço para apelação. No entanto, sua concessão ao pedido dos gansos para rezarem mostra uma falha na sua postura inflexível, destacando um uso estratégico da persuasão por parte dos gansos. Eles usam a linguagem para manipular a situação a seu favor, apelando à ideia de piedade e religiosidade, que são valores culturalmente respeitados.
Repetição e Humor: O conto utiliza a repetição de forma humorística, especialmente com o refrão „Quá, quá, quá,“ que enfatiza o caráter absurdo e cômico da situação. A repetição contínua sugere ao leitor que o tempo está se prolongando indefinidamente, frustrando a expectativa da raposa de um desfecho rápido.
Simbolismo e Moralidade: Linguisticamente, o conto emprega fábulas tradicionais que frequentemente terminam com uma moral. A escolha da raposa como personagem astuto e dos gansos como inocentes, mas eventualmente espertos, reforça o simbolismo comum na literatura fábula. A narrativa sugere uma lição sobre a importância da astúcia e da união em face de ameaças.
Tensão e Resolução: Linguisticamente, a história cria tensão inicial com a iminente ameaça à vida dos gansos e progressivamente difunde essa tensão através da repetida e interminável oração dos gansos. A trama se desenrola em suspenso, prendendo a atenção do leitor ao deixar o desfecho em aberto: os gansos continuam a rezar, cada um começando antes do anterior terminar, numa estratégia eficaz para evitar seu fim trágico.
Em resumo, o conto utiliza diálogos eficazes, repetição humorística e simbolismo para criar uma narrativa envolvente que é ao mesmo tempo educativa e entretenida.
Informação para análise científica
Indicador | Valor |
---|---|
Número | KHM 86 |
Aarne-Thompson-Uther Índice | ATU Typ 227 |
Traduções | DE, EN, DA, ES, FR, PT, IT, JA, NL, PL, RO, RU, TR, VI, ZH |
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson | 34.4 |
Flesch-Reading-Ease Índice | 28.5 |
Flesch–Kincaid Grade-Level | 12 |
Gunning Fog Índice | 14.6 |
Coleman–Liau Índice | 10.8 |
SMOG Índice | 12 |
Índice de legibilidade automatizado | 7.6 |
Número de Caracteres | 1.355 |
Número de Letras | 1.050 |
Número de Sentenças | 15 |
Número de Palavras | 232 |
Média de Palavras por frase | 15,47 |
Palavras com mais de 6 letras | 44 |
percentagem de palavras longas | 19% |
Número de Sílabas | 446 |
Média de Sílabas por palavra | 1,92 |
Palavras com três sílabas | 49 |
Percentagem de palavras com três sílabas | 21.1% |