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Os quatro irmãos habilidosos
Grimm Märchen

Os quatro irmãos habilidosos - Contos de fadas dos Irmãos Grimm

Tempo de leitura para crianças: 13 min

Era uma vez um pobre homem que tinha quatro filhos; quando já estavam crescidos, disse-lhes:

– Meus caros filhos, já é tempo de que cuideis de vossa vida; ide pois pelo mundo afora. Eu nada tenho para vos dar; portanto, viajai para algum país estrangeiro e aprendei um ofício que vos permita viver honestamente. Os quatro irmãos despediram-se do pai, tomaram dos bordões e, juntos, saíram da cidade. Andaram algumas horas e chegaram a uma encruzilhada de onde partiam quatro estradas divergentes. Então, Pedro, que era o mais velho, disse aos irmãos:

– Agora 6 melhor separarmo-nos; cada qual irá para um lado tentar fortuna: daqui a quatro anos, no mesmo dia e na mesma hora de hoje, devemos nos encontrar neste mesmo lugar. Cada qual seguiu por um caminho. O mais velho logo encontrou um homem, que lhe perguntou aonde ia e o que tencionava fazer. Vou à procura de um ofício – respondeu o moço. Pois bem, – disse o homem, – vem comigo e
aprenderás o ofício de ladrão. – Não, não, – respondeu Pedro; – essa é uma profissão pouco honrada e, no fim da festa, acaba-se feito badalo de forca. – Oh, – retorquiu o outro, – não deves temer a forca; eu te ensinarei, somente, como deves fazer para apropriar-te de objetos mais escondidos em lugares onde ninguém poderá ir no teu encalço. Pedro deixou-se persuadir e, nessa escola, tomou-se logo tão hábil na arte de roubar, que nada mais estava em segurança desde que o desejasse. O segundo, que se chamava João, também encontrou um homem no seu caminho, que lhe perguntou para onde ia e o que desejava aprender. – Vou à procura de um ofício, mas ainda não sei qual. – Então vem comigo e aprenderás a ser um bom astrônomo; não há coisa melhor; nada haverá de oculto para ti. João aceitou e seguiu o mestre. Após algum tempo, tornou-se astrônomo perfeito e, quando apto a cuidar de si, quis continuar a viagem; o mestre fez-lhe presente de um telescópio, dizendo;
Com este aparelho poderás ver tudo o que ocorre na Terra e no Céu, e nada poderá ficar oculto de ti. O terceiro irmão, chamado José, entrou como aprendiz em casa de um caçador, que tão bem lhe ensinou tudo o que se relacionava com a arte de caçar, que ele se tornou caçador perfeitamente adestrado e insuperável. Quando terminou o aprendizado, despediu-se do mestre e este presenteou-o com uma espingarda, dizendo:

– Esta espingarda nunca falha; com ela acertarás qualquer alvo. Miguel, o mais moço dos quatro irmãos, por sua vez encontrou um homem que lhe fez as mesmas perguntas, e lhe sugeriu:

– Não gostarias de aprender o ofício de alfaiate? – Não é do meu agrado, – respondeu o rapaz; – não me entusiasma a ideia de ficar o dia inteiro curvado com uma agulha na mão! – Qual nada! – respondeu o homem; – isto é o que pensas; comigo aprenderás uma arte muito diversa. Uma arte digna e muito apreciada, mesmo honrosa! O rapaz convenceu-se; seguiu o mestre e acabou por se tomar um alfaiate de primeira ordem e muito hábil. Findo o tempo de aprendizado, despediu-se e o mestre presenteou-o com uma agulha, dizendo:

– Com esta agulha, podes coser seja lá o que for; quer seja mole como um ovo ou duro como o aço, a emenda ficará tão perfeita que ninguém a poderá distinguir. Entretanto, os quatro anos passaram e, no dia marcado, os quatro irmãos encontraram-se no lugar combinado. Cheios de alegria, abraçaram-se e beijaram-se, dirigindo-se depois para a casa do pai. Este ficou radiante ao tornar a vê-los:

– Que bom vento vos trouxe novamente à casa? – disse muito satisfeito. Os filhos contaram-lhe, então, todas as peripécias ocorridas com eles e a espécie de ofício que tinham aprendido. Estavam justamente sentados à sombra de uma frondosa árvore que havia em frente da casa, e o pai, querendo certificar-se sobre o que diziam, propôs:

Desejo pôr à prova a vossa habilidade. Lá em cima, no topo da árvore, entre dois galhos, há um ninho de pintassilgos; dize-me, meu filho, – falou o pai dirigindo-se ao segundo, – podes dizer-me quantos ovos há dentro dele?

Os quatro irmãos habilidosos Contos de fadas

João, o astrônomo, pegou na luneta, dirigiu-a para a árvore e disse no fim de alguns segundos:

– Há cinco. – Tu, – disse o pai ao mais velho, – vai retirar os ovos, mas sem incomodar o pássaro que lá está chocando. O ladrão perito trepou pela árvore acima e, sem incomodar o pássaro, que nada percebeu, retirou os cinco ovos que estava chocando e trouxe-os para o pai, que os colocou sobre a mesa, um em cada ângulo e o quinto no centro. Dirigindo-se ao terceiro filho, disse:

– Quanto a ti, tens de os furar pelo meio, com um só tiro da tua espingarda. O caçador apontou a espingarda e furou os ovos exatamente como lhe pedia o pai, acertando todos cinco com um só tiro. (Com certeza ele possuía aquela espécie de pólvora que dobra as esquinas!)
– Agora a tua vez, Miguel – disse o pai. – Com tua famosa agulha tens de coser as cascas dos ovos e os passarinhos que estão dentro de maneira que o tiro não os prejudique. O alfaiate pegou a agulha e costurou tudo como exigia o pai. Quando terminou Pedro tornou a ir pôr os ovos no ninho tão de leve que o pássaro não se apercebeu e continuou a chocar; alguns dias depois os filhotes saíram da casca como se não tivessem sido furados, e tinham uma listrazinha vermelha em volta do pescoço, no lugar onde o alfaiate fizera a costura. – Muito bem, – disse o pai, – só posso fazer os melhores elogios. Aproveitastes bem o vosso tempo, aprendendo com perfeição. Não sei a qual hei de dar o prêmio da destreza; veremos isso quando tiverdes oportunidade de empregar a vossa arte. Algum tempo depois, o país estava todo em alvoroço, porque a filha do rei tinha sido roubada por um dragão. O rei, tremendamente aflito, mandou anunciar que aquele que a trouxesse de volta, casaria com ela e, mais tarde, herdaria o trono. – Eis uma ótima ocasião para nos distinguirmos, – disseram os quatro irmãos; – procuremos juntos salvar a princesa. – Vou saber já onde ela se encontra, – disse o astrônomo. Foi buscar a luneta e, olhando cm todos os sentidos, disse:

– Estou vendo-a; está sentada sobre um rochedo, no meio do mar, distante daqui muitas léguas; o terrível dragão está montando guarda junto dela. Apresentaram-se ao rei e pediram-lhe um navio; assim que o obtiveram, puseram-se a navegar em direção ao rochedo. A princesa continuava lá sentada e o terrível animal, deitado ao lodo dela, dormia com a cabeça no seu regaço. O caçador disse:

– Nessa posição em que se encontra, não posso atirar, pois mataria também a princesa. – Deixe isto por minha conta, – disse o perito ladrão. Saltou para terra, esgueirou-se sorrateiramente e retirou a princesa, tão habilmente e com tanta destreza, que o monstro não se apercebeu e continuou roncando. Radiantes de alegria, carregaram-na correndo para bordo e, soltando todas as velas, fizeram-se ao largo. Mas o dragão, despertando pouco depois e não vendo mais a princesa, saiu a persegui-los, rugindo furiosamente pelo espaço. Quando já pairava por cima do navio e ia precipitar-se sobre os fugitivos, o caçador apontou-lhe a espingarda e atingiu-o em pleno coração. O monstro despencou, fragorosamente, sem vida; mas era tão colossal, que ao cair despedaçou completamente o navio. Felizmente, eles conseguiram agarrar-se a algumas tábuas e ficaram flutuando no vasto mar. Contudo, o perigo era imenso, mas o alfaiate, sem perder tempo, pegou a agulha prodigiosa e, num abrir e fechar de olhos, coseu solidamente os destroços do navio, recolheu nele toda a ferragem, cosendo-a muito bem nos respectivos lugares. Executou o trabalho com tanta habilidade que, em breve, o navio ficou em condições de navegar e assim puderam voltar para casa. Ao ver a querida filha, o rei ficou transportado de alegria e disse aos quatro irmãos:

– Cumprirei a promessa. Um dos quatro a receberá por esposa, mas, qual será, deveis decidi-los entre vós. Então rebentou entre eles tremendo litígio, porque cada qual tinha as suas pretensões. O astrônomo dizia:

– Se eu não tivesse descoberto com a minha luneta onde se encontrava a princesa, todas as vossas artes teriam sido vãs; portanto sou eu que a devo desposar. – De que serviria saber onde ela estava, – protestou o ladrão, – se eu não a tivesse subtraído ao dragão? Portanto, ela é minha. O caçador, por sua vez, dizia:

– Qual nada; o monstro teria devorado vós todos e mais a princesa, se o tiro de minha espingarda não o tivesse matado; por conseguinte ela pertence-me. – E se eu, com a minha agulha prodigiosa, não tivesse recomposto o navio, teríeis todos perecido afogados; portanto, ela tem ser minha. A discussão já ia longe, quando o rei interveio. – Na verdade, todos têm igual direito à mão de minha filha e, como ela não poderá casar com os quatro, nenhum a terá. Em compensação cedo-vos a metade do meu reino para que o partilheis entre vós. Essa decisão agradou plenamente os irmãos, que exclamaram:

– E‘ bem melhor assim antes que vivermos em desarmonia. Assim, cada qual instalou-se nos seus ricos domínios, vivendo muito felizes. O pai ia, alternadamente, passar três meses em companhia de cada um dos filhos, ficando todos satisfeitos, enquanto o bom Deus o permitiu.

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NúmeroKHM 129
Aarne-Thompson-Uther ÍndiceATU Typ 653
TraduçõesDE, EN, DA, ES, PT, FI, HU, IT, JA, NL, PL, RU, TR, VI, ZH
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson38.8
Flesch-Reading-Ease Índice25.9
Flesch–Kincaid Grade-Level12
Gunning Fog Índice17.2
Coleman–Liau Índice10.5
SMOG Índice12
Índice de legibilidade automatizado8.3
Número de Caracteres9.098
Número de Letras7.101
Número de Sentenças92
Número de Palavras1.587
Média de Palavras por frase17,25
Palavras com mais de 6 letras342
percentagem de palavras longas21.6%
Número de Sílabas3.065
Média de Sílabas por palavra1,93
Palavras com três sílabas410
Percentagem de palavras com três sílabas25.8%
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